segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Crônica de uma Bienal

Cheguei na I Bienal do Livro de Curitiba com uma pergunta na cabeça: O que será que vou encontrar aí dentro? E também com um objetivo claro: ver como funciona a relação autor-leitor em todos os momentos em que ela acontece. Será que sai faísca? Saiu. Será que há escritores que agridem verbalmente o leitor? Existe.  Será que há escritores que falam, sentem vontade de chorar, tem sua voz embargada e continuam a falar? Teve. Será que há escritores que não tem conteúdo mas fazer marketing do oposto? Também tem. Enfim, notei várias coisas. Anotei até quais as roupas que os escritores usaram nos eventos. Teve um que usou roupas clássicas com uma meia rosa listrada com azul. Vários usaram camisas para fora da calça. Teve um com um chapéu típico daqueles americanos que veem ao Brasil fazer turismo na selva, alias, o mesmo escritor que numa mesa redonda derrubou metade da água na mesa e a outra metade dentro do copo. Será que só eu vi? Analisei tudo o que pude. É uma pena que não tenha mil olhos físicos para que tivesse observado cem por cento das pessoas. Caso tivesse passaria o restante do ano apenas falando sobre a Bienal. Dentre os presentes eu observei uma loira. Ela estava sentada exatamente em minha frente, entre o escritor de meias rosas listradas com azul. Já que ela estava ali, parada, com todos os seus pertences esparramados obviamente me pus a observá-la. Seria impossível não ver cada detalhe do que ela fazia, afinal, eu estava interagindo com ela, ainda que ela não soubesse. Quando ela se mexia para um lado e ocultava a minha vista, eu me mexia para o outro. Observei que ela tinha cadernos, agendas e livros. Também portava uma câmera fotográfica. Fazia algumas anotações, tirava fotos. E não era destas câmeras que os pobres mortais têm. Era uma câmera profissional. A moça parecia nova, coisa de uns 20 anos, para mais ou para menos. Eu daria 22. Tentei enxergar através das lentes dos seus óculos se seus olhos eram claros. Mas me pareceram castanhos. Cheguei a conclusão que seu cabelo deveria ser loiro oxigenado, afinal, as tintas de hoje estão quase perfeitas. Às vezes é impossível diferenciar. Seu rosto era muito liso, sem pintas, e branco, como o do meu sobrinho mais novo. Imaginei que ela é do tipo que toma uma hora de sol sem protetor e fica da cor de uma pimenta. No entanto notei que as maçãs do seu rosto estavam avermelhadas. Talvez ela estivesse passando calor. Meu sobrinho branquelo fica avermelhado quando sente calor. Fiquei me perguntando o que ela faria de sua vida. Como estava com muitos papéis, livros, etc, cheguei a conclusão que deveria gostar de ler. Me perguntei se ela praticava esportes, mas cheguei à conclusão que não porque quem gosta muito de ler não costuma gostar de esporte. Bem, nunca vi ninguém lendo Shakespeare na esteira da academia. Observei que a calça dela era de cintura baixa, da MOfficer. Seria era uma patricinha? Seria ela sem conteúdo? Bem, isso eu não poderia afirmar porque todas as minhas calças praticamente são da mesma marca. Olhar uma marca e fazer uma afirmação seria afirmar algo sobre mim também. Ela vestia um top que cobria a maior parte do seu corpo, não era nada muito ousado. Era um simples top. Ela usava um sapatinho baixo que não sei dizer o nome e que nunca vi na vida, que parecia ser confortável e tradicional.  Fiquei ouvindo os bate papos com os autores a observando, tentando descobrir um pouco mais sobre ela apenas pelas atitudes. Ela ganhou pontos ao tirar uma foto ao lado do Ruy Castro. Pediu a uma mulher ao lado que tirasse uma foto. A mulher tirou duas. E não saiu. E eu vi que não havia saído. Eu estava observando. Mas não iria sair do meu pedestal e me oferecer para tirar uma foto. Meu lado curitibano falou mais alto. Primeiro ela não havia me pedido, seria uma intromissão de minha parte. Segundo porque uma mulher já estava tirando a foto, seria dizer que a mulher não tira bem fotos. E realmente não tirava. Ao final a palestra iria começar e a loira descobriu que a foto não havia saído. Acabou tirando uma última foto que com certeza não ficou tão boa como a primeira que havia saído. Os organizadores chamaram o autor e logo ele se deslocou ao local do bate papo, logo ao lado e a loira seguiu vendo as fotos em sua máquina. Fiquei bem intrigado ligando os pontos e tentando traçar um perfil comportamental-psicológico-intelectual dela. Cheguei a conclusão que câmera fotográfica mais livros e reverência por bons autores eram um bom indício. Resolvi ser cara de pau. Ao terminar o bate papo fiquei me enrolando e guardando vagarosamente meus pertences de tal forma que coincidisse com o término dos dela, que eram muitos e espalhados. Acabamos nos levantando na mesma hora e dei o bote:
Oi...