segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A chegada triunfal

Haviam me dito que o ônibus chegaria às 7 ou 07:30 da manhã. Bem, aqui começa a sucessão de maus entendidos. Foi justamente às 04:00 da manhã, em ponto que o ônibus chegou em El Mínia. E obviamente não havia ninguém me esperando. Se a rodoviária no Cairo parecia um feirão à céu aberto esta parecia simplesmente uma mera rua. Se no Cairo era daquele jeito, aqui eu deveria esperar o mesmo. Tive que ter fé para acreditar que estava em Mínia, afinal, nada, nenhuma placa dava o indicativo da cidade. Abaixo, a foto de onde o ônibus me deixou.


Tão logo o ônibus me deixou eu pensei: já que não terá ninguém para me pegar eu vou até uma loja de frutas aberta, ( à esquerda da foto) e espero umas 3 ou 4 horas lá. Bem, minha presença no local não iria passar tão despercebida quando eu imaginava. Nem um minuto havia se passado eu fui cercado por um bando de uns 20 egípcios. Mas claro, todos queriam ajudar. Nada do tipo mal encarados. Mas nenhum deles falava inglês. Foi então que pude usar efetivamente o meu pobre árabe, que estava mais para miserável do que pobre. Usando todo meu árabe falei: ( mostro agora fonetivamente o que pronunciei)

" Ana le atakalam el arabi. Ana Batakalan el lorra el portuguis, li inglis uil spanhol"
( Eu não falo árabe, eu falo os idiomas português, inglês e espanhol)

Enfim, o bando de homens falava ao mesmo tempo e tentavam se comunicar e me ajudar mas ninguém falava inglês até que uns 5 minutos depois apareceu um rapaz que arranhava no inglês. Eu mostrei então vários papéis de tinha. Um era o cartão de visita do homem no Cairo que tinha me vendido o " pacote". Ligararam para o homem e falaram um tempo com ele até que passaram o fone para mim e ele me disse: Carlos, não saia daí. Espere até amanhecer e uma pessoa irá te buscar. Eu concordei.
Mas logo em seguida chegou a polícia, vindo não sei de onde, e queria me levar. Era a polícia de turistas, veio para ajudar. Eu disse que poderia ficar ali sem problemas e que estava bem. No fundo eu não acreditava que ele era um policial, afinal, não vestia uniforme nenm credenciais. ele pediu para ver o meu passaporte, mas eu disse que não tinha. E não tinha mesmo! Antes de sair do Cairo eu pensei: deixarei o passaporte aqui e vou para lá sem. Se acontecer alguma coisa e eu for deportado pelo menos sou deportado do Cairo e lá eu passo no Hotel e pego o passaporte. Agora se eu levar o passaporte e me levarem eu não consigo nem sair do Egito. Melhor viajar sem. E viajei mesmo, apenas com minha carteira de motorista do Brasil. Depois de afirmar enfaticamente que não iria sair dali o policial disse que eu não precisava me preocupar que ele era mesmo um policial. Em seguida levantou a blusa e mostrou o revólver. Eu disse mesmo assim que iria ficar ali que o homem da agência de viagem havia me dito que era para ficar ali e que eu estava bem. Isto tudo ao meio de 20 egípcios falando alto, tentando ajudar, às vezes rindo e dando gargalhadas. Enfim, era como um verdadeiro alienígena tivesse caído com sua nave no meio do Egito. Eu disse que ficaria ali na banca de frutas até que três jovens se ofereceram para que eu entrasse e ficasse na panificadora, que estava ali na frente e eu não havia visto. Era madrugada e eles trabalhavam com a porta aberta. Havia uma banqueta bastante confortável e eles me acomodaram ali. E me trataram muito bem. O rapaz que sabia falar inglês foi embora e ficaram apenas dois rapazes que só falavam árabe. Depois de uma hora chegou um terceiro que falava inglês até que bem. Conversamos um pouco. Era estudante de direito do segundo ano. Foi então que contei que era do B-a-r-a-s-i-l.
Fez diferença. Os outros dois árabes começaram a se comunicar comigo através de palavras chave. Pelé. Rivaldo. Cacá. Adriano. Ronaldino ( sim, eles não pronunciam o nh). E eu respondi foneticamente falando " Naám" que significa sim. Além disso cada pessoa que vinha comprar pão e me olhava ali atrás do balcão perguntava quem eu era. Eles explicavam e as pessoas pediam para tirar foto. O pessoal da panificadora me tratou muito bem e ficavam me dando pão o tempo inteiro. As pessoas que chegavam pediam para tirar foto e fazer Poses. por exemplo, pediam para eu colocar um pão da boca e fazer que estava mordendo o pão da panificadora e tiravam fotos. Eu fazia, todo simpático. Bem, foi o meu segundo dia de celebridade. O primeiro conto depois. E foi assim que passei as minhas próximas quatro horas. Felizmente estava sem sono porque havia dormido antes no hotel. Pedi então para tirar uma foto deles, que prontamente atenderam de bom grado. As horas foram passando e eu fui tirando mais e mais fotos. Algumas abaixo.


Enfim, foi muito bom ficar ali e pude conhecer egípcios mais simples, fora do meio turístico do Cairo. Pessoa de boa índole e muito, muito solícitos. Fiquei com dor no coração de ter falado tão mal do Egito. Fui muito radical quando estava brabo e naturalmente, radicalismo não leva a nada. Mas a noite ainda era uma criança. A sucessão de maus entendidos continuou.

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